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Estabelecer metas contribui para o sucesso do negócio

Análise de informações estratégicas e tributárias deve ser feita com base em dados do presente

Fonte: Jornal do ComércioTags: empresas

Luciane Medeiros

 

Fim de ano é hora de avaliar as ações do período que se encerra e projetar a etapa seguinte. No âmbito das empresas, os planejamentos estratégico e tributário são ferramentas essenciais para ajudar na elaboração dos projetos e nas metas a serem buscadas. Essa projeção deve ser feita com base em dados presentes para ações de longo prazo. 

No caso do planejamento estratégico, essa é uma tarefa da direção e constitui uma projeção futura. O desenvolvimento do planejamento estratégico deve ser feito a partir da análise do ambiente interno e externo. “Questões de tecnologia, equipe e localização devem ser levadas em consideração, bem como os pontos fortes e fracos”, diz Marcelo Bernardes, presidente da AGQ - Associação Gaúcha para Qualidade. 

Para ele, a avaliação dos fatores externos é outro ponto de extrema importância na elaboração do planejamento. Fornecedores, clientes e questões amplas, como política e economia, não podem ser esquecidos. O próximo ano, por exemplo, é período eleitoral. “Esse é um tema que pode influenciar a realização de alguns negócios”, lembra o consultor. 

De posse de todas as informações sobre os ambientes ao redor da empresa, chega o momento de traçar o futuro. As grandes companhias costumam ter seu planejamento estratégico estruturado, porém ele deve ser revisado a cada final de período. Diante da dúvida da necessidade e relevância de planejar com cenários incertos, Bernardes faz o alerta. “Aí sim é que o planejamento torna-se uma ferramenta essencial. A projeção deve ser feita com três possibilidades: pessimista, realista e otimista, permitindo vislumbrar diferentes situações.”

A tarefa de elaborar o planejamento permite aos gestores e demais envolvidos sair do cotidiano operacional. O empresário tem que se desvincular da rotina e olhar para o futuro, estruturando seu processo de tal forma que a equipe possa executar as tarefas enquanto ele se dedica à gestão. Bernardes aconselha que os funcionários também sejam envolvidos de alguma forma nessa mobilização, sugerindo ideias que possam vir a ser implantadas futuramente. O ideal é que vários níveis da organização estejam envolvidos na tarefa. 

Embora o planejamento estratégico seja utilizado em grande parte por grandes corporações, com a existência de áreas específicas para cuidar do assunto, as pequenas empresas podem, também, desenvolver ações nesse sentido. “É preciso levantar a cabeça como girafa e não ficar com ela na terra, agindo como um avestruz. Quem age dessa forma acaba engolido pelo mercado”, afirma. 

Definição do regime tributário é prática legal

O planejamento tributário realizado pelas empresas constitui na busca de práticas legais para o pagamento de tributos. O coordenador da Comissão do Sped no Conselho Federal de Contabilidade (CFC), Luiz Antonio Balaminut, explica que o seu desenvolvimento difere da evasão fiscal, forma intencional por meios ilícitos de evitar, reduzir ou retardar o pagamento de tributos devidos. 

No planejamento tributário, a empresa lança mão de mecanismos preventivos antes da ocorrência dos impostos. Diante do complexo sistema tributário existente no Brasil, bem como das alterações frequentes impostas à legislação, o gerenciamento de tributos pode constituir uma atividade da administração de um dos maiores componentes de custos. Em um País com elevada carga tributária, seu correto emprego colabora para garantir a permanência do negócio e a sua competitividade. 

Balaminut diz que não só as grandes como as pequenas e médias empresas podem utilizar os meios oferecidos pelo planejamento tributário. Porém, é mais habitual que grandes companhias tenham em sua estrutura um departamento específico para tratar do assunto. A finalidade desse tipo de planejamento é evitar a incidência do tributo, reduzir seu montante ou retardar o seu pagamento. Isso significa a adoção de procedimentos para não permitir a ocorrência do fato gerador. “Depois que ocorre o fato gerador, a companhia não tem mais como deixar de pagar”, diz.

As empresas podem optar por três regimes distintos: Lucro Real, Lucro Presumido ou Simples Nacional. De acordo com o diretor da Gerencial Auditoria e Consultoria Ângelo Mori Machado ao simular o comportamento da empresa nos três sistemas o gestor percebe que uma nova opção pode amenizar os gastos nesse segmento aumentando o investimento em outros, o que pode resultar em maior competitividade. 

O Lucro Real é calculado com base parte no faturamento e parte no resultado. O Lucro Presumido e o Simples Nacional têm como índice as receitas. Esse último, embora com alíquotas relativamente baixas, é progressivo de acordo com a faixa da empresa. “Tem que comparar. Mesmo para o micro empreendedor, dependendo da atividade o Simples Nacional nem sempre é o mais vantajoso”, completa.

A escolha do regime fiscal tem efeito para o ano todo, sendo o prazo limite para a adesão ao Simples Nacional até o próximo dia 30 de dezembro. Para as demais modalidades, o enquadramento definitivo acontece usualmente com o primeiro pagamento do imposto, normalmente recolhido em fevereiro. 

Obrigações acessórias entram na pauta

Além das obrigações principais que determinam o pagamento dos tributos, existem as obrigações acessórias. Elas também podem penalizar o contribuinte caso não sejam realizadas na forma prevista por lei. É necessário verificar a forma e o prazo de pagamento, com o preenchimento correto do documento de recolhimento e a prestação correta de informações ao Fisco por meio de declarações e demonstrativos. 

Luiz Antonio Balaminut, coordenador da Comissão do Sped no Conselho Federal de Contabilidade (CFC), reforça a importância desse ponto. Dependendo do regime escolhido pela empresa, há uma documentação diferente. Em caso de descumprimento da obrigação, o empresário poderá sofrer multas, prejudicando os negócios. 

A implantação do Sistema Público de Escrituração Digital (Sped) é um exemplo claro das novas obrigações. “O envio das informações em meio digital não muda o cálculo nem significa aumento de impostos. O Sped facilita a organização dos dados para a empresa, refletindo em melhores condições de concorrência dela no mercado”, ressalta. 

Balaminut lembra que o planejamento tributário, antes de ser um direito, uma faculdade, é uma obrigação para todo bom administrador. É uma possibilidade de redução de custos e melhoria da lucratividade das empresas. Em um ambiente de elevada carga tributária, torna-se indispensável para qualquer tipo de negócio.

Previsão de receitas minimiza problemas

A análise de uma série de aspectos permite aos gestores garantir que a previsão de receitas, o chamado forecast, seja projetada sem problemas. Não há como prever o futuro nem elaborar uma receita mágica que afaste todo e qualquer percalço do caminho a ser percorrido por uma organização, porém a utilização de algumas premissas auxilia o grupo a passar de um ano a outro com maior tranquilidade.

O sócio da KPMG no Brasil na área de Strategic & Commercial Intelligence (SCI) Augusto Sales elaborou um material contendo os sete erros mais comuns na previsão de receitas. Em primeiro lugar, o gestor deve dimensionar o mercado onde ingressará ou já atua. “Vale lançar uma marca de papel de três folhas com perfume Channel?” O exemplo, embora pareça descabido, fez parte do projeto de uma grande indústria do setor. Ao analisar o mercado nacional, o fabricante percebeu que não havia público consumidor para tal produto, em função da divisão de classes. Segundo Sales, é comum o lançamento de artigos que acabam virando um fiasco por total falta de consumidor, o que reflete a inexistência de uma análise prévia das necessidades.

Da mesma forma, a intenção de compra do consumidor é outro ponto que, quando mal avaliado, pode levar a prejuízos. Prever que terá crescimento contando apenas com a satisfação da clientela pode não refletir nos números reais. Outro ponto que acarreta erro na previsão de receitas é a formação dos preços. Ela pode ser feita tanto em clima de otimismo exagerado quanto de pessimismo, prejudicando os negócios. 

Para as empresas que trabalham com projetos - arquitetura ou engenharia, por exemplo - o pipeline é um fator importante. O pipeline é uma análise de como estão os projetos do grupo. Não há como precisar quantas dessas propostas passarão ao patamar de negócios realmente. Nesse caso, orienta Sales, é importante analisar o histórico de quem contratou o serviço, verificando quantos trabalhos foram executados anteriormente para tal cliente. “Podemos ter um pipeline robusto, de milhões, porém no final das contas uma parcela mínima do valor projetado acaba entrando no caixa.”

Também a estimativa dos custos de crescimento deve ser analisada, com uma aprofundada análise de aspectos operacionais. É comum o crescimento estar ligado à ampliação da força de vendas, investimentos em capacidade produtiva ou outros itens, pontos esses que devem ser analisados pelos administradores quando os mesmos são profissionais prudentes. Já o ingresso em um novo mercado pode acarretar dificuldades se as barreiras de entrada não forem avaliadas previamente, seja do ponto de vista geográfico ou de produto. Questões como mercado, competidores, existência de mão de obra, público, impostos e aspectos legais estão ligadas ao sucesso do empreendimento. 

Sales conclui sua relação dos sete pecados capitais na previsão de receitas com a regulação. As alterações regulatórias podem influenciar a projeção de receitas.